Adoção de Novas Tecnologias

Trabalhando com novas tecnologias para o mercado agrícola, sempre me deparo com frases do tipo:

"Meu produto tem mostrado incrementos incríveis, é um produto diferenciado, aumentou 10% na produtividade da soja!"

"Estamos com resultados de pesquisa fantásticos! Fizemos ensaios em várias regiões e o incremento foi significativo!"



Uma dica que coloco aos colegas, que buscam prospectar essas novas tecnologias, é colocar referencial! Não estou falando apenas em comparar com outros produtos de mercado, seja num ensaio científico ou em um "demo plot" do tipo lado a lado; e sim sobre em qual situação a sua tecnologia contribuiu.

São muitos fatores que determinam uma boa produtividade e sua constância ou sustentabilidade temporal; então qual mensagem deveríamos levar ou apresentar?

Coloco alguns pontos para reflexão, que na minha opinião, deveriam acompanhar a mensagem de uma nova tecnologia:

- Fundamentação Tecnológica. 

O mecanismo de funcionamento da tecnologia tem de ser claro, seja para o fabricante, seja para o usuário final. Um exemplo, é o uso não declarado de bioestimulantes, o que acarreta excesso de estímulos e sinalizações ao metabolismo vegetal, o que pode ocasionar desordens fisiológicas diversas como o "travamento" da planta; fluxo vegetativo excessivo; fitoxidez; excesso de estruturas reprodutivas; excesso ou deficiência de absorção de nutrientes; maior atratividade a pragas e doenças; etc.



- Cenários de Contribuição. 

A tecnologia pode ser usada em qualquer cenário ou serve apenas para uma questão específica? Qual o histórico de adoção tecnológica em que a tecnologia foi testada?

O resultado obtido foi em situação de baixa, média ou alta fertilidade dos solos? A incidência da praga ou doença era atípica ou severidade alta? E a biologia do sistema?

Condições químicas e físicas do solo? Teor de matéria orgânica? Palhada ou uso de plantas de adubação verde? Uso de ácidos orgânicos?



- Estrutura de Custo da Tecnologia.

Muitas vezes boas ideias e bons produtos morrem ou não decolam, devido ao posicionamento errôneo de seus difusores. Realizam estudos superficiais, acreditam em resultados preliminares e acabam fazendo precificações desajustadas. Voltemos as reflexões, a tecnologia está bem definida? qual cenário ela se encaixa? Necessita da complementariedade do sistema para um bom desempenho?

São muitos outros pontos que podem ser elencados neste breve artigo, mas por outro lado, o potencial das culturas está longe de ser atingido no Brasil. Veja o caso da soja, onde a literatura estima um potencial de genético de cerca 300 sacas por hectares, e ainda estamos em termos médios, na faixa entre 60 e 70 sacas por hectare. 

Existem produtores e sistemas que se sobressaem, sim, existem! São produtores que entenderam que devem fazer a lição de casa bem feita: um sistema físico favorável, sem compactações; uma estrutura química bem fundamentada e bem corrigida; biologia favorável e sustentável; usar estratégias de mitigação de perdas por estresses, enfim, "o arroz com feijão, bem feito".

Antes da adoção de uma tecnologia "milagrosa", construir os pilares químico, físico e biológico de forma consciente! 

O "jogo" é sobre eficiência produtiva e redução de perdas!

Sérgio Barraca





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